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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Deputada Manuela: Harvard

Reproduzimos abaixo, artigo publicado pela Deputada Manuela d'Ávila, dirigente nacional da UJS, em seu blog Há uma menina

HARVARD

Francisco. Meu nome é Francisco. Assim Tuchinha da Mangueira apresentou-se para mim. O maior nome do tráfico daquele morro, sambista, homem que via o asfalto subir ao morro para sambar. Ele já decidiu: saiu do tráfico e vai entrar no AfrorFrancisco. Meu nome é Francisco. Assim Tuchinha da Mangueira apresentou-se para mim. O maior nome do tráfico daquele morro, sambista, homem que via o asfalto subir ao morro para sambar. Ele já decidiu: saiu do tráfico e vai entrar no Afroreggae. Vai ajudar a tirar jovens do crime. Diz que muita coisa mudou, quer ver a filha crescer. Assim, militando, ele se protege de todos os que não acreditam que ele deixou de ser dono do morro. Se protege dos que o reverenciam para o mal e também daqueles que o sequestraram na ultima saída da cadeia para pegar o dinheiro que achavam que tinha (e que talvez tivesse).
Rose Peituda. Chefe do tráfico de Vigário Geral. Uma das poucas donas de morro da história do tráfico. Tem seios pequenos. É peitudo porque retomou o morro em 24 horas em uma ocasião. Agora quer entrar para o Afroreggae e pregar em Lucas. Porque? Por que vivia em guerra com essa comunidade e quer sair do Comando e entrar para a facção de Jesus. A melhor amiga dela na cadeia? Jaqueline Beira-mar. Esposa dele.
Sombra, chefe do Comando Vermelho. Magaiver, maior ladrão de bancos da história do Rio. Miguel, inteligente sequestrador. Aldair, dono da Mangueira. Metralha, sobrevivente dos irmãos que dominaram a Rocinha. Um assassinado, outro paraplégico. Filho de uma professora aposentada, segundo grau concluído com 17 anos.
Em comum? Nenhum romantismo. Mas cansaço de fugas, tiros e filhos que passam pelo constrangimento das visitas em presídios. Também a conclusão de que em 40 anos, 20 foram perdidos "tirando cadeia". Todos com disposição de passarem a militar na "facção" Afroreggae. Mostrar aos jovens outro caminho. Saída do tráfico. Menos violência. Isso é o que vim conhecer, ouvir em seis presídios em Bangú. A gente quer paz. Para isso, nada mais importante do que mudar os donos de parte da violência de lado.
O Junior, do afroreggae, disse uma ótima frase: estás fazendo Harvard em chefes de crime. Sim. Ouvi aos caras mais importantes nesse assunto (além desses Estão Beira-mar, Marcinho VP, Elias Maluco). E ouvi de todos o desejo pragmático de mudar de vida. Uns no trabalho do Afro, outros reconstruindo a vida em outro estado.
Mas o que me chamou atenção foi que sem saber Junior escreveu esse texto por mim. Sexta-feira embarco para Boston, EUA. Passarei 4 dias em Harvard. Eles me fizeram um convite para debater as perspectivas do Brasil. Isso me fará migrar de um universo para outro.
Mas as duas tem um grande vínculo: as perspectivas do Brasil passam pela diminuição da violência. Ou seja, a Harvard de lá precisa entender a daqui, ali em Bangu.

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