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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

UNE abre carnaval de Porto Alegre

Desfile leva à avenida importantes momentos e personagens da luta estudantil brasileira

O microfone amplifica o chamado: “Avante! A nossa marcha começou! Coragem à vanguarda juvenil!”. Dessa vez as palavras de ordem convocam para uma marcha bastante especial e diferente daquelas que costumam parar as ruas do Brasil reivindicando melhores condições de vida para o povo brasileiro: é carnaval e a Imperatriz Dona Leopoldina chama a comunidade para cair no samba e brilhar na avenida.

A semelhança com a força das palavras de ordem do movimento estudantil não é um acaso: esse ano a Imperatriz Dona Leopoldina desfilará os 75 anos de história da União Nacional de Estudantes (UNE). A escola, que já foi campeã em 2010 com um samba-enredo homenageando a cantora Beth Carvalho, com seus dois mil integrantes, divididos em 16 alas, abrirá, às 23:45 da sexta-feira (17), o carnaval 2012 de Porto Alegre.

“A une tem uma história muito rica e muito forte que envolve a todos. Quando começa o samba tem gente que volta no tempo”, contou o presidente da escola, Maurício Nunes, grande responsável pela escolha e sugestão do tema. Maurício teve sua história de vida marcada pela militância estudantil. “Comecei no movimento secundarista e depois fui militar diretamente no partido”, relembrou.

Quatro carros e 16 alas resgatam a história da UNE

A escola preparou uma deliciosa viagem no tempo passando por toda a história da UNE, e, consequentemente, do Brasil. O desfile começa na década de 40, com a luta dos estudantes defendendo a ruptura do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), numa mensagem de paz à “À Mocidade do Brasil e das Américas”.

O desfile contará com quatro carros alegóricos. Destaque para o abre-alas, que trará uma imensa representação de Carmen Miranda, em analogia à brasilidade, irreverência e alegria do movimento estudantil no país, e criando um recorte da década de 40, quando a campanha dos estudantes pela paz foi realizada.

Em seguida, a bateria da escola, o coração do samba, fantasiada de “Ouro Negro”, representará a campanha o “Petróleo é nosso”, grande bandeira de luta da entidade lançada em 1947, durante o X Congresso, quando o estudante Roberto Gusmão foi eleito presidente. “No final do desfile a bateria volta para a avenida e nós estaremos representando, também, a luta dos estudantes para a destinação de 50% do Fundo Social do Pré-sal para a educação”, explicou Maurício. Hoje, a maior luta do movimento estudantil brasileiro é por mais recursos, principalmente os provenientes das riquezas naturais do país, para a educação.

A cultura brasileira terá grande destaque na avenida. O compositor e intérprete Vinícius de Morais, autor da letra do histórico hino da entidade, será lembrado pelo desfile no segundo carro alegórico. O tropicalismo, movimento musical que teve seus artistas perseguidos pela ditadura, e a bossa nova serão tema de alas subseqüentes ao carro. O CPC (Centro Popular de Cultura) também figurará entre as plumas e paetês.

Ditadura e volta à legalidade ganham forma na avenida

Nem tudo na história da UNE é alegria e irreverência. “Acredito que o terceiro carro vai gerar um grande impacto. É o carro da tirania, da ditadura. Preparamos um imenso tanque militar com um general cheio de tentáculos”, detalhou o presidente da escola. Nesse mesmo carro haverá uma representação cenográfica do prédio da UNE em chamas para relembrar o incêndio encomendado em 1964 na sede das entidades, na Praia do Flamengo 132, e posteriormente a demolição do que havia sobrado do prédio, em 1980.

Esse difícil capítulo da UNE está sendo reescrito. No dia 12 de agosto de 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um projeto de lei (PL), no Rio de Janeiro, que reconheceu a responsabilidade do Estado no incêndio e demolição da sede da UNE e da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). A entidade recebeu uma indenização para reconstrução do prédio e também um novo projeto arquitetônico assinado Oscar Niemeyer.

O período da ilegalidade da UNE, que começou em 1964 com a Lei Suplicy de Lacerda, e a volta à legalidade, em 1985, são momentos importantes do desfile. Haverá uma ala representando a Passeata do Cem Mil, em 1968, quando centenas de estudantes, artistas e intelectuais foram às ruas no Rio de Janeiro para protestar contra a Ditadura Militar, e também uma para a heróica campanha das Diretas Já.

O destaque desse trecho do desfile ficará para o casal do mestre sala e porta bandeira. Para além da importância desse momento para a história do Brasil e do movimento estudantil, a apresentação promete emocionar. Alguns dias antes do desfile, um violento acidente de carro abalou o coração da escola: Dona Nena, vice-presidente do conselho da escola e avó da porta-bandeira, faleceu e deixou o mestre-sala, Jean Passos, hospitalizado.

“Mesmo com essa dor imensa, a Nathalie, nossa porta-bandeira, resolveu desfilar. Vamos fazer uma grande homenagem, também ao Jean à Dona Nena. Isso é mais uma demonstração da unidade e do comprometimento da escola com o enredo. A superação dela está servindo como combustível para fazer com que a gente enfrente esse momento e consiga fazer a escola vir com muita força na avenida”, afirmou Maurício.

O desfile será fechado pelo último carro alegórico, representando os estudantes brasileiros, com a participação de membros da diretoria executiva da UNE. A ala final trará a velha guarda da escola chamando a atenção para a da UNE de destinação de 10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-sal para educação.

Imperatriz Dona Leopoldina entra para ganhar

Na contagem regressiva para esse grande momento, direto da quadra da escola, onde acontecia o último ensaio antes do desfile, Maurício, emocionado, deixou os preparativos de lado por alguns minutos e conversou com o site da UNE. “Estou louco para pisar nessa avenida. A escola vai passar com muita maturidade, com o regulamento embaixo do braço. Vamos conseguir fazer desse momento um momento de emoção. Vamos conseguir representar tudo. Uma relação com aquilo que é do povo. Isso é uma marca do povo brasileiro. Vamos buscar nota por nota uma condição de ganhar o carnaval”, finalizou.

Camila Hungria

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