Mais um ano eleitoral. Mal acabou eleição e já somos jogados em outra. E nem sempre são os candidatos ou pré-candidatos que forçam essa exasperação política. Grande parte da responsabilidade por estarmos sempre respirando pleitos é, sim, da imprensa que, mal tem um resultado, já trata de criar novas candidaturas. Como se sabe, o produto eleição sempre vendeu – e ainda vende – muito bem. Nada melhor, então, do que ampliar ao máximo o tempo da política.
Diferente da imprensa norte-americana, que tem lado assumido e, portanto, é mais transparente em seus objetivos, a imprensa tupiniquim gaudéria está longe disso. A ilusão da isonomia e da isenção escorrega em coberturas de fatos ou factóides populares. E, aqui, o samba atravessado é o das coberturas pretensamente objetivas que, ao se forçarem acessíveis e vendáveis, apelam para o método do “jornalismo Contigo”, enfocando, de forma privilegiada, alguns foliões e fiéis eleitorais.
Eis uma forma – eles argumentariam do alto de suas redações – de dar uma narrativa mais fluida, menos densa à enfadonha e insuportável política. Mas quem paga por isso? A credibilidade.
Afinal, qual a fé das pessoas em jornais? A mesma de políticos que desfilam abanando em procissão. A mesma de carnavalescos de um ano só. A mesma de alguns pré-candidatos que pecam pelo excesso: melhor desfilar em muitas para garantir visibilidade. O que têm em comum a imprensa e os tais candidatos fieis e foliões? A incredulidade.
Dica aos políticos: eventos de corte popular jamais podem e poderão ser tratados como um mero trampolim. O preço é caro para quem faz isso.
Então vamos ao que eu, moradora de Porto Alegre, mas não eleitora da capital, me pergunto: o errado é aquela pessoa que desde criança vai à procissão de Navegantes e, anos mais torna-se comunista e segue cristã (caso da Manuela d’Ávila)? Ou o errado é o evangélico, cuja fé –legítima – o impede de adorar santos, que, num ato performático de adoração, escolta uma imagem por quilômetros, sem sequer corar (caso Fortunati)? Religião é coisa séria e coerente. Deveria ser tratada assim.
Já na cobertura do carnaval, faltou dizer que até comunista caiu no samba. Faltou dizer quem desfila há quantos em cada escola. Faltou dizer quem tem história. Faltou, ora, faltou objetividade e apuração. Ou talvez não tenha faltado e, sim, sobrado omissão. O que, quem, quando, onde e como deixaram de existir na cobertura da RBS durante os desfiles.
Antecipando a disputa eleitoral – mais uma vez – a emissora tomou partido. Nada declaradamente, claro. Mas a nitidez da tentativa de burlar um universo de informações públicas vazou. As informações, que, teimosas, insistem em sobreviver e circular para além da objetividade pouco objetiva e seletiva, circularam. E, num lapso, puderam – vejam bem –ser conferidas em um dos veículos da própria emissora. O resultado de vídeos publicados pelo Diário Gaúcho: Manuela teve 2400 acessos; Fortunati 100.
No fim das contas, o problema atinge a quem? Os candidatos que simplesmente não aparecem ou deixam de ser citados? Aqueles candidatos inventados de última hora para preencher espaços? A imprensa? Não, é o povo. O povo que, aos poucos, vai deixando de acreditar. Já desacredita em quase tudo, mas mantém a esperança. Mesmo desacreditando a imprensa, aquela que prega ética de manual em punho e age de acordo com o que a publicidade (!) manda.
Duas coisas são sagradas ao povo: fé e carnaval. Não tentem, então, esconder fatos. Não brinquem com a fé das pessoas. Tomem coragem e tomem partido. Tenham lado. Chimangos ou maragatos, gremistas ou colorados, todo gaúcho tem postura, tem coragem e tem, acima de tudo, a história recente em sua memória. “Eu li na Zero” já não é mais sinônimo de verdade absoluta; “vi no Jornal do Almoço” tampouco.
Pode se mudar de lado, afinal só os intolerantes não mudam de opinião. Mas ter sempre o lado da situação (mudar não mudando), embora elas sejam opostas a cada quatro anos, é demagogia demais. Não se pode cegar ou menosprezar aqueles que são os personagens principais de uma eleição: os eleitores.
Então, que todos coloquem seus blocos nas ruas: partidos, candidatos, eleitores e imprensa.
Para encerrar, não podemos esquecer – tal como os escândalos políticos – que a mesma imprensa que muda de lado conforme mudam os investimentos publicitários também tem manchetes impressas. Mais: tem a omissão estampada no silêncio estridente. E, tão certo como a procissão de Navegantes e o carnaval não acontecem a cada quatro anos, as manchetes e mudanças de lado são identificadas. A ilusão da objetividade também cobra o seu preço. E costuma cobrar caro.
Parece que as posições estão tomadas. A imprensa do prefeito Fortunati ganha força nessa emissora. Já Manuela, mesmo desfilando há 11 anos na mesma escola, faz com que o abre-alas de sua escola não seja mostrado no desfile. E, não se pode esquecer, claro, que no meio do caminho há um candidato do meio Villaverde: meio do caminho, meio da imprensa, meio de lá e meio de cá, meio sem votos, meio dividindo o que conquistou o Estado. Cabe lembrar que alguns se valorizam pela ausência sentida.
Só que enquanto o Rei Bebe da Situação, o povo se educa.
Por Manuela Colla
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