O dia de ontem ficará na história do Brasil como mais um grande episódio em que se observou grandes movimentos de massa. Só em Porto Alegre, foram 20 mil pessoas nas ruas, apesar da chuva insistente e do frio implacável. Segundo o jornal Metro, foram registradas manifestações em 80 cidades do país. A mídia tradicional deu um destaque nunca antes visto a estes movimentos, procurando ressaltar seu caráter apartidário. A Rede Globo inclusive deixou de exibir o capítulo da novela das oito para dedicar-se exclusivamente às manifestações, procurando contar a história sob a sua óptica, sempre servil aos interesses do capital.
O ato de ontem em Porto Alegre foi claramente heterogêneo e sem uma direção central. A ausência dessa direção resultou em duas marchas distintas, que acabaram se encontrando na altura do viaduto entre a Duque de Caxias e a João Pessoa. Neste ponto, sob sinais de aprovação nas janelas, dentre elas as da Casa do estudante da UFRGS, foi possível constatar uma relativa unidade da caminhada com gritos de "vem pra rua vem contra o aumento", dentre outros. O apego a bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul – bem como de seus hinos – também ficou bastante evidenciado.
Militantes com bandeiras de movimentos e partidos foram hostilizados em alguns pontos da jornada, mas predominou o clima de unidade. Estudantes e jovens empunhavam uma enorme faixa da União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) pedindo "10% do PIB para a educação", que foi amplamente apoiada pelos manifestantes. Muito se ofereciam para segurar a faixa, na caminhada que rumou da João Pessoa para a Ipiranga. Mais atrás da faixa, observavam-se bandeiras da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Optando pelo não confronto com a polícia, milhares tomaram a Lima e Silva gritando por mudanças no Brasil
No entroncamento da Ipiranga com a Lima e Silva, um grande divisor de águas da jornada. Ao saber que 500 metros a frente o pelotão de choque guarnecia a sede do Jornal Zero Hora do Grupo RBS, dezenas de jovens liderados pela União da Juventude Socialista (UJS) decidiram fazer uma parada para avaliar a situação. "Não queremos violência e enfrentamento com a polícia", definiu a conferencia improvisada. O grosso da multidão, contudo, seguiu rumo ao enfrentamento iminente com a polícia, apesar dos gritos apelando para que não fizessem isso.
Poucos minutos depois o apelo pela não violência começou a ser atendida por uma multidão considerável, que decidiu rumar pela Lima e Silva numa demonstração de manifestação pacífica. Enquanto a polícia defendia a RBS de maneira truculenta na Ipiranga, lançando bombas de gás lacrimogêneo em cima de milhares de manifestantes, mais de três mil pessoas tomaram a Lima e Silva rumo ao Largo Zumbi dos Palmares na capital gaucha, cantando o hino do Brasil e do Rio Grande do Sul, e palavras de ordem do tipo "pode chover, pode molhar, mas o Brasil eu vou mudar!", "um, dois, três, quatro, cinco, mil, não quero a cura gay, quero a cura do Brasil", "olê olê, olê olá, corrupção vai acabar, reforma política para o Brasil mudar", "o povo não esquece, abaixo a RBS", e "povo na rua qual é sua missão? 10% do PIB para educação".
O coordenador da União Estadual de Estudantes Livres (UEE-Livre) Álvaro Lotterman avalia que "A festa da juventude na rua, que apesar da chuva queria mudar o país, não vai ser calada pela violência policial, nem instrumentalizada pela direita golpista". O estudante referia-se às lamentáveis cenas de violência policial e os constrangimentos a vários militantes com bandeiras, que se repetiram em várias manifestações pelo país.
Em São Paulo, o Movimento Passe Livre (MPL), um dos organizadores dos atos, se retirou
do protesto na quinta (20), depois de perceberem a tentativa de partidos de direita de se apropriarem da mobilização e da agressão contra partidos de esquerda. "O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário", diz nota emitida ontem. O Movimento disse repudiar atos de violência contra partidos, informando inclusive que organizações partidárias construíram o movimento desde o começo. "Oportunismo é tentar exclui-la da luta que construímos junto", denuncia a nota.
"Daqui de Porto Alegre, terra de chuva e de Fórum Social Mundial, demos ontem um recado à mída e a direita: NÃO PASSARÃO", disse Igor Pereira, secretário de juventude trabalhadora da CTB do Rio Grande do Sul, que segurou a faixa dos 10% do PIB para educação ontem todo o tempo com os estudantes. "A juventude demonstrou que pode fazer um ato pacífico e propositivo, pautando a reforma política, recursos para a educação, democratização da mídia, a luta por um estado laico e outras tantas bandeiras importantes. É claro que a mídia está tentando manipular e grupos de direita, com discurso antipartido, estão tentando desviar o foco, mas demonstramos que é possível contrapor esses grupos e propor a unidade do povo para avançar nas mudanças", afirmou.
Fonte: Barão Gaúcho
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