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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Leonardo Silveira: Rolezinho não é novidade




Mídia quer atmosfera explosiva para criar novo junho

O ano mal começou e já se revela surpreendente, em meados do início de janeiro de qualquer ano comum o noticiário seria dominado por notícias sobre o veraneio nas praias do litoral brasileiro, diante da tradicional apatia política do período. Ocorre que 2014 não é um ano comum.

O fato é que em um piscar de olhos, a sociedade brasileira encontra-se debruçada na discussão sobre o fenômeno do rolezinho. Na academia, nas redes sociais, nos jornais, nas ruas, nos poderes legislativo, judiciário e executivo o assunto dominante é o mesmo: qual a motivação que tem levado centenas de jovens adeptos do estilo funk a ocuparem os shoppings centers (templo do consumo), as consequências e o significado disto.

O desejo pelo consumo de produtos de grifes tradicionais, a mobilidade e ascensão social da classe trabalhadora, a completa ausência de espaços públicos adequados para o lazer, e de políticas públicas para a juventude são prováveis causas para este fenômeno social. A reação preconceituosa da sociedade e repressão violenta da polícia militar são consequências terríveis, mas infelizmente normais para uma sociedade fundada nos marcos da desigualdade e do racismo.

De 2006 a 2010 a onda dos “bondes” tomou conta da juventude de Porto Alegre. Estes grupos de jovens levaram a denominação de “bonde” por ser inspirado nas quadrilhas do tráfico de drogas cantadas pelo funk carioca. Identificavam-se pelas roupas de marcas como Nike e Adidas, e formavam grupos maiores unindo-se a outros bondes da mesma área territorial da cidade. Sua principal ferramenta de organização era a internet, onde através do Orkut convocavam encontros entre grupos nos shoppings da cidade.

Ocorre que em outras capitais do país os bondes, rolezinhos, ou simplesmente encontros de adolescentes adeptos do funk em shoppings não é algo que surgiu agora, embora a ascensão do funk ostentação tenha mudado um pouco o perfil destes grupos. A questão é porque então só agora isso veio à tona com esta força?

A novidade está na intensa e completa cobertura da grande mídia sobre este fenômeno. Cenas da repressão policial em horário nobre de televisão, capa de jornal, grandes matérias sobre o assunto, comentários de âncoras nos diversos meios de comunicação explicam a enorme proporção que a coisa tomou.

Para entender o motivo de tamanha cobertura midiática é preciso relembrar o papel da mídia nas manifestações de junho de 2013. No Jornal da Globo de 12 de junho de 2013, Arnaldo Jabor declarou que os manifestantes eram “revoltosos de classe média que não valem nem 0,20 centavos”. Seis dias depois o mesmo Arnaldo Jabor diz a CBN que errou, que o movimento “expandiu-se como uma força política original” e na maior cara de pau tenta inserir pauta e sentido ao movimento das ruas: “não basta lutar genericamente contra a corrupção, há que se deter em fatos singulares e exemplares, como a terrível ameaça da PEC 37... Por que o PAC não andou? Por que aeroportos, rodovias e ferrovias estão podres e sem concessões resolvidas. Por que as obras do Rio São Francisco estão secas? Por que as obras públicas custam o dobro dos orçamentos? Por que a inflação está voltando? Por que a infraestrutura do país está destruída? Por quê? E por aí vai, amigos ouvintes. Por quê? Por quê? O Passe Livre pode nos ajudar a responder essas perguntas”.

O que levou Jabor a mudar de ideia foi a oportunidade que a mídia viu em pautar um movimento que ganhou proporções gigantescas após a noite de 13 de junho com a sangrenta repressão aos manifestantes por parte da polícia militar de São Paulo (que serviu como lenha na fogueira) e tentar explicitamente colocar a massa das ruas para desestabilizar o governo federal.

Diante da estabilidade econômica do país, dos altos índices de aprovação do governo, e da ausência de notoriedade da oposição, a reeleição de Dilma Rousseff é fato praticamente consumado, exceto se algo extraordinário de proporção gigantesca acontecer: um novo junho em meio a Copa do Mundo por exemplo.

Os rolezinhos para os lojistas e donos dos shoppings significam tumulto e insegurança (pois pensam como senhores de engenho e não como empreendedores), para os adolescentes que participam são apenas zoeira e diversão, mas para os interesses das grandes oligarquias midiáticas (PIG) é a oportunidade de criar uma atmosfera de tensão no país, inflamar protestos, instigar a violência, declarar a insegurança e instalar o caos político e social durante Copa (período de pré-campanha eleitoral). E aí “Uma fagulha pode incendiar uma pradaria” (Mao Tse-Tung).

A colunista da Folha de São Paulo e comentarista da Globo News Eliane Cantanhêde (aquela do partido da massa cheirosa) avalia em sua coluna de 14 de janeiro que os rolezinhos vão longe e que será em vão a tentativa de freia-los, diz “Não vai dar certo” e ainda sugere “E a Copa vem aí”. Já o editor de “Cotidiano” da Folha de São Paulo Alan Gripp vai mais longe e traça a estratégia do movimento: “O ponto é que os rolezinhos ganharão escala nacional se distanciando do seu real significado e se aproximando das manifestações de rua do ano passado”, convoca adesão “O bonde do role será formado por estudantes universitários, militantes de organizações sociais, simpatizantes de partidos de esquerda, entre outros grupos – o terror dos empresários é a adesão dos Black blocs”, e ainda sugere a palavra de ordem “somos todos rolezinho”.

Estes jovens querem apenas alegria e diversão, mas mesmo que não saibam estão envolvidos em uma grande batalha política, em um ano onde está em jogo nada menos do que a presidência da república. Nada nem ninguém escapa da disputa de poder.


*Leonardo Silveira é diretor de Políticas Públicas para a Juventude da direção estadual da UJS-RS e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul.

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